O fotógrafo documental Steve McCurry é mais uma vez alvo de críticas, agora sua famosa foto “Menina Afegã” ganha uma nova visão. O fotógrafo Tony Northrup conta a história de como a fotografia foi criada e apresenta uma visão bem coerente de inúmeros problemas por trás dessa imagem.
A história de uma das capas mais icônicas da revista National Geographic, fotografada por Steve McCurry, apresenta os olhos reluzentes de uma criança afegã refugiada que vive o terror da guerra. A expressão dessa menina comoveu o mundo, apresentou a dura realidade sofrida por milhares de refugiados e gerou um enorme lucro ao fotógrafo da revista.
McCurry conta que estava caminhado pela cidade quando ouviu risadas vindo de uma escola, lá ele encontrou Sharbat Gula, a menina afegã de olhos claros. Encantado, Steve tentou fotografá-la, mas ela pareceu resistente e então ele fotografou outras crianças da sala. Depois disso, o professor interveio à favor de McCurry e pede para que Sharbat pose para a fotografia, e então nasce a famosa imagem da menina afegã.
Contudo, Northrup apresenta duas questões: a menina Sharbat Gula é de etnia Pashtun, seguidores de um código de honra religioso pré-islâmico. A menina com mais de oito anos, usava o hijab e vivia com inúmeras limitações como não poder ficar em um mesmo quarto com um homem que não fosse membro de sua família, não poder olhar diretamente para um homem e nem ser fotografada. Então um professor pede a Sharbat para que ela tire o hijab da frente do rosto.
O professor está ajudando McCurry com a situação, leva a menina para outra sala, onde a luz é muito melhor e um ótimo fundo limpo. Northrup analisa a pose de Sharbat como “glamour dos anos 80” onde o ombro está inclinado para a câmera. Para Northrup, o modo como a fotografia foi realizada apresenta em suas proporções um encaixe perfeito em uma capa de revista. McCurry sabia que a forte imagem de uma menina refugiada chamaria atenção, mas isso não precisa ser levado para o lado negativo.
Segundo os apontamentos de Northrup, os olhos de Sharbat apresentam medo do homem que está trás da câmera, a quebra das regras em que vive, o medo de ser punida por tirar o hijab, o sentimento de estar em presença de um homem desconhecido e de ser fotografada, além de toda a pressão masculina que sofreu.
Após 15 anos a história se repete quando a National Geographic procura Sharbat para refazer a fotografia. Ela nem imagina o que aconteceu após aquele dia na escola e o que sua imagem representa no mundo. Nesta retomada, Sharbat segue não querendo mostrar o rosto e, mais uma vez, é pressionada. O Paquistão acaba indo a seu encontro, afinal Sharbat Gula ainda é refugiada, apesar de ter vivido em terras paquistanesas a vida toda.
O resultado desta fotografia é a deportação de Sharbat Gula. Northrup apresenta uma análise deste momento: após Sharbat chegar ao conhecimento do governo paquistanês, ela foi vista como uma figura importante que representa os refugiados, então questões como saúde, educação e casa própria foram negociadas em troca de entrevistas a revistas, jornais e emissoras de televisão. Mesmo assim, para Northrup, Sharbat não parece feliz em fazer parte dessas aparições.
Os apontamentos de Northrup são válidos para pensarmos a fotografia dentro de seu contexto real, sem romantismo, apenas compreender de que por mais bela e representativa que a imagem seja, ela foi captada dentro de alguma circunstância e que, algumas vezes, pode ferir o fotografado.
Confira o vídeo completo de Northrup, ativando a legenda em português:
Via: IPhoto